sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Praecepta magistri Mediae Aetatis




Neste poema, um professor medieval dá a seu discípulo certos conselhos sobre a rotina que deve manter para uma sã vida intelectual. Os preceitos foram pensados para um período de recesso, mas podem bem ser aplicados por aqueles que pensam numa vida de estudos como autodidata.

Leiturameditaçãoregistro das coisas meditadas: eis o esquema subjacente ao programa de estudos proposto pelo professor e que tantos frutos trouxe para a vida intelectual e para as letras, como o comprova o grande número de mentes excepcionais formadas por este modelo.  

É interessante notar que o mestre faz questão de estabelecer um programa de estudos equilibrado, conciliando-o com outras tarefas e com o lazer, e faz questão de manter certo contato com o aluno mesmo neste recesso, supervisionando suas atividades ainda que a distância.

[Notem as rimas internas de cada verso: preceptorum...meorum; nugis...frugis; metas...etas; um capricho típico do latim medieval. O poema é escrito em hexâmetros leoninos.]

Si preceptorum superest tibi cura meorum,
Parce, puer, nugis, dum rus colo tempore frugis.
Prefigam metas, quales tua postulat etas;
Quas si transgrederis, male de monitore mereris.
Contempto strato summo te mane levato,
Facque legendo moram quartam dumtaxat ad horam.
Quinta sume cibum, vinum bibe, sed moderatum,
Et pransus breviter dormi vel lude parumper.
Postquam dormieris, sit mos tuus, ut mediteris.
Quae meditatus eris, tabulis dare ne pigriteris;
Quae dederis cerae, spero quandoque videre.
Miseris huc quaedam, – facies, ut cetera credam.
Post haec i lectum, cum legeris, ito comestum.
Post sumptas escas, si iam monet hora, quiescas.
Si tempus superest, post cenam ludere prodest.
Sub tali meta constet tibi tota dieta. (Marbod von Rennes)

Tradução

Se a ti resta algum zelo pelos meus preceitos,
Poupa-te, ó garoto, das frivolidades, enquanto cultivo o campo no tempo da colheita.
Prefixarei metas, daquelas que exige a tua idade;
Se as transgredires, ter-te-ás comportado mal aos olhos do preceptor.
Desprezado o leito, levantar-te-ás de manhã bem cedo,
Põe-te a ler ao menos até às dez horas da manhã.
Às onze horas toma o alimento, bebe o vinho, mas moderadamente.
E, tendo almoçado, dorme ou distraia-te por tempo breve.
Depois de dormir, seja-te um costume o meditar.
As coisas que tiveres meditado, não hesites em mandá-las às tábuas*.
As coisas que tiveres dado à cera, espero vê-las em um algum momento.
Enviarás para cá algumas delas; farás isso, para que eu acredite nas demais.
Depois dessas coisas, vai ler; quando tiveres lido, vai comer.
Depois do alimento consumido, se já o adverte a hora, descansa.
Se sobra tempo, é bom distrair-se após o jantar.
Que sob esta meta te esteja firmemente estabelecido todo o modo de agir.

* Nesta época os alunos escreviam em tabuinhas de madeira cobertas de cera.

A palavra latina para colorir (2)

Em latim, uma das palavras para rio é flumen. Você sabe como chamamos a uma pessoa que nasce no estado do Rio de Janeiro?

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Psittacus sub aulaeo ferreo - O papagaio na cortina de ferro




Quodam die in Hungaria, miles Russicus superbus in tabernam venit ut Vodkam biberet. Psittacum in taberna "Mors Communistis!" identidem dicentem audivit. Miles cauponi dixit "Cras iterum in hanc tabernam veniam. Si ille psittacus adhuc in hoc loco est, mors tibi et psittaco!" Caupo psittacum ad sacerdotem duxit et difficultatem suam ei explicavit. Sacerdos respondit, "Fili mi, ego etiam psittacum habeo. Dabo tibi psittacum meum et tuum accipiam." Reversus est itaque caupo cum psittaco sacerdotis. Proximo die, idem miles Russicus in tabernam venit bibitque Vodkam. Cum biberet, semper psittacum spectabat et expectabat audire "Mors Communistis!" Psittacus autem haec verba non dixit. Tandem cum multam Vodkam bibisset, et nullum verbum ex psittaco audivisset, miles cum ira dixit psittaco, "Age, age- mors communistis!" Et psittacus celeriter respondit ei: "Dominus det tibi id quod rogas, fili mi."

Tradução

Certo dia na Hungria, um soldado russo, orgulhoso, foi a uma taberna para beber vodca. Ouviu um papagaio dizer diversas vezes: "Morte aos comunistas!" O soldado disse ao taberneiro: "Amanhã virei novamente a esta taberna. Se aquele papagaio ainda estiver neste lugar, é morte para você e para o papagaio!" O taberneiro levou o papagaio para um padre e lhe explicou a sua dificuldade. O padre respondeu: "Meu filho, eu também tenho um papagaio. Darei o meu a você e ficarei com o seu." Assim, o taberneiro voltou com o papagaio do padre. No dia seguinte, o mesmo soldado foi para a taberna e bebeu vodca. Enquanto bebia, sempre olhava para o papagaio e esperava ouvir: "Morte aos comunistas!". Mas o papagaio não disse essas palavras. Por fim, depois de ter bebido muita vodca e de não ter ouvido nenhuma palavra do papagaio, o soldado disse irado ao papagaio: "Vamos, vamos - morte aos comunistas!" E o papagaio rapidamente lhe respondeu: "Que o Senhor lhe conceda o que pede, meu filho."

Perseus Andromedam servat (História de Perseu 8)


(Perseus collum monstri vulnerat)

At Perseus, ubi haec vidit, gladium suum rapuit: et, postquam talaria induit, in aera sublatus est. Turn desuper in monstrum impetum subito fecit: et gladio suo collum eius graviter vulneravit. Monstrum, ubi sensit vulnus, fremitum horribilem edidit, et sine mora totum corpus sub aquam mersit. Perseus, dum circum litus volat, reditum eius exspectabat: mare autem interea undique sanguine inficitur. Post breve tempus, bellua rursus caput sustulit; mox tamen a Perseo ictu graviore vulnerata est. Tum iterum se sub undas mersit, neque postea visa est.

Tradução

Mas Perseu, ao ver essas coisas, puxou a espada: e, depois de ter calçado os sapatos alados, elevou-se pelos ares. Então, atacou subitamente o monstro lá de cima: e com sua espada, feriu gravemente o pescoço dele. O monstro, quando sentiu a ferida, deu um grito horrível, e sem demora mergulhou todo o corpo na água. Perseu, enquanto voa ao redor da praia, aguardava o retorno dele: mas o mar, enquanto isso, tingiu-se de sangue por todos os lados. Pouco tempo depois, a besta novamente levantou a cabeça; mas logo foi ferida por Perseu com um golpe mais forte. Em seguida, novamente mergulhou sob as ondas e não mais foi vista depois disso. 

A palavra latina para colorir (1)


Em latim, "fogo" se diz "ignis". Em nossa língua portuguesa, várias palavras vieram de ignis, como ignição, ígneo  e ignífero. Você sabe o que elas significam? 



Vita Mariae (Pars V)



quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Aurora - um poema deutoglota



Após a publicação do poema deutoglota (isto é, que pode ser lido em duas línguas, no caso em latim e em italiano) de Butturini, recebi do amigo Sérgio Pachá os versos abaixo que foram escritos no século XIX para serem lidos em latim e em português (se tomarmos a ortografia mais antiga de nosso idioma, anterior às inúmeras reformas por que passou). O trabalho do poeta Castro Lopes é notável, embora se deva salientar que não tenha conseguido - devido à natureza do português um pouco mais distante do Lácio - o mesmo grau de identificação (a pronúncia denuncia se se lê numa língua ou noutra) com o latim que alcançara o veneziano em seu louvor dirigido à cidade natal.

Deixo a "tradução", melhor seria dizer "versão", com os leitores.

AURORA

Castro Lopes

Salve, aurora ! Eia, refulge !
Eia ! anima valles, montes !
Hymnos canta, o Philomela,
Hymnos jucundos, insontes !

Eia ! Surge, vivifica
Pendentes ramos, aurora !
Aureos fulgores emitte,
Pallidas messes colora !

Protege placidos somnos
Inquietas mentes tempera.
Duras procellas dissipa,
Terras, flores refrigera !

Extingue umbrosos vapores,
O sol, o divina flamma !
Lucidas portas expande
Tristes animos inflamma !

O Veneta Regina!



Compartilho com vocês um dos textos mais interessantes da literatura latina. Trata-se de um poema em louvor à cidade de Veneza escrito no Renascimento por Mattia Butturini e que, numa métrica perfeita, pode ser lido e compreendido tanto em italiano quanto em latim. Um trabalho realmente notável. 

Te saluto, alma Dea, Dea generosa,
O gloria nostra, O Veneta Regina!
In procelloso turbine funesto
Tu regnasti secura; mille membra
Intrepida prostrasti in pugna acerba.
Per te miser non fui, per te non gemo;
Vivo in pace per te. Regna, O beata,
Regna in prospera sorte, in alta pompa,
In augusto splendore, in aurea sede.
Tu serena, tu placida, tu pia,
Tu benigna; tu salva, ama, conserva.

Tradução

Saúdo-te, deusa nutriz, deusa generosa,
Ó glória nossa, ó rainha vêneta!
No tempestuoso e funesto turbilhão,
Tu reinaste segura; mil membros
corajosos tu prostraste na luta cruel.
Por ti não fui miserável, por ti não gemo;
Vivo em paz por ti. Reina, ó bem-aventurada,
Reina em próspera sorte, em alta pompa,
Em augusto esplendor, em sede áurea.
Tu és serena, plácida, piedosa,
Benigna; salva, ama, conserva.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Andromeda (História de Perseu 7)



(Andromeda ad rupem alligata)


Tum rex diem certam dixit, et omnia paravit. Ubi ea dies venit, Andromeda ad litus deducta est, et in conspectu omnium ad rupem alligata. Omnes fatum eius deplorabant, nec lacrimas tenebant. At subito, dum monstrum exspectant, Perseus accurrit et, ubi lacrimas vidit, causam doloris quaerit. Illi rem totam exponunt, et puellam demonstrant. Dum haec geruntur, fremitus terribilis auditur; simul monstrum, horribili specie, procul conspicitur. Eius conspectus timorem maximum omnibus iniecit. At monstrum magna celeritate ad litus contendit, iamque ad locum appropinquabat, ubi puella stabat.

Tradução

Então o rei determinou o dia certo e preparou tudo. Quando o dia chegou, Andrômeda foi conduzida para a praia e, sob o olhar de todos, amarrada a uma rocha. Todos lamentavam o destino dela; tampouco seguravam as lágrimas. Mas de repente, enquanto esperam o monstro, Perseu aparece e, ao ver as lágrimas, pergunta sobre a causa da tristeza. Eles expõem tudo e apontam para a jovem. Enquanto essas coisas ocorrem, ouve-se um estrondo terrível; no mesmo instante, vê-se ao longe um monstro de aspecto horrível. Seu olhar causou um medo enorme em todos. Mas o monstro com grande rapidez se dirigiu para a praia e já se aproximava do local onde estava a jovem. 

De Amicitia


Quanta autem vis amicitiae sit, ex hoc intellegi maxime potest, quod ex infinita societate generis humani, quam conciliavit ipsa natura, ita contracta res est et adducta in angustum ut omnis caritas aut inter duos aut inter paucos iungeretur.
Est enim amicitia nihil aliud nisi omnium divinarum humanarumque rerum cum benevolentia et caritate consensio; qua quidem haud scio an excepta sapientia nihil melius homini sit a dis immortalibus datum. Divitias alii praeponunt, bonam alii valetudinem, alii potentiam, alii honores, multi etiam voluptates. Beluarum hoc quidem extremum, illa autem superiora caduca et incerta, posita non tam in consiliis nostris quam in fortunae temeritate. Qui autem in virtute summum bonum ponunt, praeclare illi quidem, sed haec ipsa virtus amicitiam et gignit et continet nec sine virtute amicitia esse ullo pacto potest. - Cicero, De Amicitia

Tradução

Mas o quão grande é a força da amizade, podemos entendê-lo sobretudo pelo fato de que, da infinita sociedade do gênero humano, a qual conciliou a própria natureza, ela é uma realidade tão restrita e de fronteiras tão estreitas que toda a afeição se encontra reunida entre dois ou entre poucos.
Pois a amizade nada mais é do que a concórdia, com benevolência e afeto, de todas as coisas divinas e humanas; pois seguramente não conheço, excetuando-se a sabedoria, nada melhor que tenha sido dado aos homens pelos deuses imortais. Uns a ela antepõem as riquezas, outros a boa saúde, outros o poder, outros as honras, e outros os prazeres. Estes últimos, certamente, são coisas próprias dos animais selvagens, ao passo que os anteriores são caducos e incertos, fundamentados não tanto em nossas resoluções quanto nos caprichos da sorte. Há também os que fundamentam o sumo bem na virtude, e por certo o fazem muito nobremente, mas é esta mesma virtude que gera e sustenta a amizade; ademais, de modo algum pode haver amizade sem virtude. 

domingo, 2 de agosto de 2015

Ornamenta Corneliae

(Ecce mea ornamenta!)


Apud antiquas dominas, Cornelia, Africani filia, erat maxime clara. Filii eius erant Tiberius Gracchuus et Gaius Gracchus. Ii pueri cum Cornelia in oppido Roma, claro Italiae oppido, habitabant. Ibi eos curabat Cornelia et ibi magno cum studio eos docebat. Bona femina erat Cronelia et bonam disciplinam maxime amabat. 
Proximum domicilio Corneliae erat pulchrae Campanae domicilium. Campana erat superba non solum forma sua sed maxime ornamentis suis. Ea laudabat semper. "Habesne tu ulla ornamenta,  Cornelia?" inquit. "Ubi sunt tua ornamenta?" Deinde Cornelia filios suos Tiberium et Gaium vocat. "Pueri mei," inquit, "sunt mea ornamenta. Nam boni liberi sunt semper bonae feminae ornamenta maxime clara."

Tradução


Entre as antigas senhoras, Cornélia, filha de Africano, era extramamente renomada. Seus filhos eram Tibério Graco e Caio Graco. Esses meninos moravam com Cornélia na cidade de Roma, famosa cidade da Itália. Lá Cornélia cuidava deles e lá os ensinava com grande zelo. Cornélia era uma boa mulher e amava muitíssimo a boa disciplina.
Vizinha à residência de Cornélia ficava a residência da bela Campana. Campana era orgulhosa não só de sua beleza, mas especialmente de suas jóias. Sempre as louvava. "Tu tens jóias, Cornélia?", diz. "Onde estão as tuas jóias?" Em seguida, Cornélia chama seus filhos Tibério e Caio. "Os meus filhos", diz, "são as minhas jóias. Pois os bons filhos sempre são, para uma boa mulher, as mais distintas jóias ."

sábado, 1 de agosto de 2015

De accusatore




Neste parágrafo extraído de uma obra medieval, vemos Alcuíno a dissertar sobre as estratégias retóricas que devem ser empregadas pela acusação em um tribunal. Note-se que se deixa de lado o fato em tela para atacar diretamente a pessoa, dificultando-lhe os meios de defesa, o que é moralmente questionável. 

____________

Nam accusator eius vitam ante actam, quem arguit, vel protervam eius naturam seu studia malitiosa vel mores improbos vel facta cruenta improbare debebit et ostendere, si potuerit, si in quo pari ante peccato convictus sit, et quam turpis aut cupidus aut petulans aut cruentus esset, ut mirandum non sit talem hominem ad tale facinus proruisse. Quantum enim de honestate et auctoritate eius qui arguitur detractum erit, tantum erit de facultate totius eius defensionis inminutum. Si nullo ante acto peccato reus infamari poterit, hortandi sunt iudices, non veterem famam hominis, sed novum facinus esse iudicandum. Nam ante celatum esse qualis esset, nunc autem manifestum esse: quare hanc rem ex superiori vita non debere considerari, sed superiorem vitam ex hac turpitudine improbari. - Flaccus Albinus Alcuinus (saec. VIII post Christum natum).

Tradução literal interlinear

Nam accusator eius vitam ante actam, quem arguit, vel protervam eius naturam seu studia malitiosa 
Pois o acusador dele a vida antes conduzida quem acusa ou violenta dele a natureza ou desejos perversos

vel mores improbos vel facta cruenta improbare debebit et ostendere, si potuerit, si in quo pari ante
ou costumes maus ou feitos sanguinários reprovar deverá e mostrar se terá podido se em algum semelhante antes

peccato convictus sit, et quam turpis aut cupidus aut petulans aut cruentus esset, ut mirandum non sit 
crime culpado seja e quão torpe ou ambicioso ou insolente ou sanguinário fosse, para que de admirar não seja

talem hominem ad tale facinus proruisse. Quantum enim de honestate et auctoritate eius qui arguitur 
tal homem ad tal crime ter impelido. O quanto pois de honra e autoridade daquele que é acusado

detractum erit, tantum erit de facultate totius eius defensionis inminutum. Si nullo ante acto peccato 
arrancado será, tanto será da capacidade de toda dele defesa diminuído. Se por nenhum antes cometido crime

reus infamari poterit, hortandi sunt iudices, non veterem famam hominis, sed novum facinus esse 
réu difamado poderá, devem ser exortados os juízes, não a velha reputação do homem, mas o novo crime ser

iudicandum. Nam ante celatum esse qualis esset, nunc autem manifestum esse: quare hanc rem ex 
deve julgado. Pois antes ocultado ser de que tipo fosse, agora porém manifesto ser: por isso esta coisa

superiori vita non debere considerari, sed superiorem vitam ex hac turpitudine improbari. 
da precedente vida não deve ser considerada, mas a vida precedente desta infâmia ser condenada

Tradução

Pois o acusador deverá condenar a vida pregressa daquele que acusa: a natureza violenta, os planos perversos, os costumes maus ou as ações sanguinárias; e deverá mostrar, se puder, que outrora já fora condenado por crime semelhante, e o quão torpe, ambicioso ou insolente fora, de modo que não seja de surpreender que tal homem houvesse incorrido em tal crime. Quanto mais se tirar da honra e autoridade do acusado, mais se diminuirão suas condições de defesa. Se não puder ser difamado por nenhum crime pregresso, exortem-se os juízes para que julguem não a velha reputação do homem, mas o novo crime. Pois, se antes ocultara o seu caráter, agora este se tornou manifesto: por essa razão, não se deve prestar atenção a essa característica da vida pregressa, mas antes se deve condenar a vida pregressa com base na infâmia presente.


Perseus in finibus Aethiopum (História de Perseu 6)

(Monstrum saevissimum e mari quotidie veniebat et homines devorabat)

Post haec Perseus in fines Aethiopum venit: ibi Cepheus quidam illo tempore regnabat. Hic Neptunum, maris deum, olim offenderat: Neptunus autem monstrum saevissimum miserat. Hoc quotidie e mari veniebat, et homines devorabat. Ob hanc causam pavor animos omnium occupaverat. Cepheus igitur oraculum dei Ammonis consuluit, atque a deo iussus est filiam monstro tradere. (Eius autem filia, nomine Andromeda, virgo formosissima erat.) Cepheus, ubi haec audivit, magnum dolorem percepit. Volebat tamen cives suos e tanto periculo extrahere: atque ob eam causam constituit imperata Ammonis facere.

Tradução


Depois dessas coisas, Perseu veio para o território dos Etíopes: lá reinava, naquele tampo, certo Cefeu. Este, certo dia, ofendera Netuno, deus do mar: Netuno, por sua vez, enviara um monstro ferocíssimo. Este vinha diariamente do mar e devorava os homens. Por esse motivo, o pavor tomou conta do espírito de todos. Assim, Cefeu consultou o oráculo do deus Amon e recebeu a ordem de entregar a filha ao monstro. (E sua filha, de nome Andrômeda, era uma jovem belíssima.) Cefeu, quando ouviu essas coisas, sentiu uma grande dor. No entanto, queria salvar seus cidadãos de tão grande perigo: e, por esse motivo, decidiu cumprir as ordens de Amon.